terça-feira, 8 de dezembro de 2009

QUE DIA...


Hoje, fui acordado pelos braços do sol, que afagavam o meu rosto e me convidavam para um passeio pelas ruas desta cidade maravilhosa, que tem pouco de cinzenta e muito de bela.
Assim, enquanto caminhava tranquilamente ao som do vento e ao ritmo da vida, observei que um deficiente motor, que se fazia transportar numa cadeira de rodas, fazia o seu percurso de forma harmoniosa e tranquila, já que não havia qualquer obstáculo físico que impedisse essa caminhada graciosa. Ao passar por mim, sorriu e eu retribui com um abraço apertado, de irmãos. De seguida, reparei que junto a uma caixa multibanco, encontrava-se uma invisual, tão bela que cegava, a fazer levantamentos, já que esta caixa possuía todas as teclas com símbolos em Braille e eu sorri. Ao virar a próxima esquina, reparei que um mudo, de cabelos ao vento, encontrava-se na esplanada de um café, rodeado de gente amiga, pois os olhares entre si eram prova evidente dessa condição e eles conversavam, pela linguagem gestual ,de forma simples e eficaz. Isso não era novidade, uma vez que este tipo de linguagem é obrigatório no ensino, e apreende-se em apenas dois anos. Continuei a minha caminhada e quando já dava sinais de cansaço, aproveitei para me sentar nessa maravilhosa praça, onde o monitor gigante, aí instalado, projectava imagens de mais um debate na assembleia da república e eu então constatei que a maioria dos deputados eram gagos, mas não mentiam, outros eram cegos, mas olhavam nos olhos, dos seus eleitores e ainda outros eram mudos, mas gritavam bem alto razões da sua luta. É assim, a maioria dos deputados eram pessoas portadoras de alguma deficiência, mas isso não os impedia de nos governar.
Já restabelecido, continuei a minha passeata e constatei que todas as escolas, por onde passei ,estavam equipadas com rampas de acesso funcionais e os seus vigilantes eram pessoas de idade, ou seja, com mais experiência de vida que nós, que íam recebendo os alunos, como recebem os netos nas suas casas e eu voltei a sorrir. Vi ainda um polícia, na sua bela farda, sem qualquer objecto de defesa, pois também não precisava, já que ele era apenas um amigo ,que estava na rua a sorrir a quem passa. Por fim,ao chegar a casa reparei que também eu era invisual e gago…mas a chuva fez-se ouvir e fiquei sem saber o nome desta cidade. Vou dormir…

5 comentários:

francisco miguel disse...

gostei tanto de ler este texto, que acho que o vou voltar a ler novamente...um dia entre o sonho e o pesadelo, concerteza, mas que nos faz viajar. tão interessante e rico, que nem o devia estar a comentar, mas sim a ler. tá tudo dito. excelente

Anónimo disse...

A cidade-sem-nome. Era um bom título para um livro.
Sabe bem quando reparamos em pormenores assim no meio da rua, no meio da confusão. Dá vontade de sorrir com a beleza que lá está para quem quer ver.

Joao Mouteira disse...

Isabel e Miguel: Boas sugestões. Tudo vai da maneira com que cada um olha para as coisas que o rodeiam.

Mr. Coxas disse...

espetaculo, foi isto que me levou a criar um blog tambem. pk cada um tem maneiras diferentes de ver as coisas, de as interpretar, e ate' mesmo de as expor.

Joao Mouteira disse...

Coxas:Se eu fui uma inspiração para ti , isso é motivo de satisfação.Ainda bem que apreciaste, é sinal que tens sensibilidade.