Início de
tarde… mais uma, de Outono anunciado, diferente, rasgada por raios de sol,
bailando na calçada, fugindo aos pés de quem passa, surgiu a filha do senhor Sebastião.
Curvada, vergada, pelo peso de décadas, sorriu, saudando o Polícia, que na rua,
aquecia a alma, com pedaços de sol.
Sebastião,
senhor Sebastião, teria sido o fogueiro da fábrica Fapobol, que pela certa o
Polícia conhecia, dizia a sua filha, pois era ali perto, para os lados do
carvalhido, da qual agora nada restava, pois haviam sido construídas casas
naquele espaço, ficou desde logo, o polícia informado, acenando com a cabeça, para
que não restassem dúvidas de que havia compreendido.
A senhora,
que então era menina, de 11 anos, lembrou que então, à data, teve a sorte de ir
trabalhar para a fábrica, onde o seu pai já laborava, que era a Fapobol e que
ficava perto do carvalhido, relembrou a senhora, que falava da menina, filha do
fogueiro.
Foi uma
sorte… pois foi limpar as máquinas, que serviam para as senhoras trabalharem os
moldes e as mãos e pernas ficavam cheias de óleo, que agora a senhora lembrava,
com saudade de ser criança, de 11 anos, que de joelhos, trabalhava… bons tempos
aqueles, dizia a senhora acerca da menina que havia sido.
Melhor ainda,
foi quando o patrão, que tinha uma quintarola, nas imediações da dita fábrica,
a surpreendeu, com uma sua colega de trabalho, da mesma idade, dentro de um
tanque, a lavar o óleo das pernas e mãos, em trajes menores e foi rir a bom
rir, pois o mesmo, vendo crianças a brincar na água, sorriu, possivelmente
pensando que as meninas seriam depressa mulheres e já teriam que se recatar de
olhares indiscretos.
Criança…Mulher,
despediu-se, sorrindo, sempre sorrindo, fazendo da vida não uma estrada de
lamentos mas um caminho de sorrisos e o polícia, com a alma aquecida, olhou
para a filha do senhor Sebastião, pensando… de que te queixas tu criança que
passas…